Em agosto de 2023 o SENERGISUL publicou nota no jornal Correio do Povo manifestando sua preocupação diante da falta de energia elétrica, que chegou a perdurar 4 dias para grande parte da população gaúcha após a passagem de um ciclone extratropical pelo Estado. O quadro alarmante que se verificava então foi novamente visto nesta semana após tempestade que atingiu o Rio Grande do Sul na última terça-feira (dia 16).
As tempestades de verão não são novidade na vida dos gaúchos. O que surpreende a população agora é a grande demora no restabelecimento da energia elétrica, atualmente fornecida por empresas privadas, que, segundo o discurso privatista, deveriam ser mais eficientes que as públicas.
Novamente a CEEE-D Equatorial, privatizada há mais de 2 anos, deu grande mostra de incompetência e precariedade na prestação dos serviços e atendimento aos consumidores. Como já expresso pelo SENERGISUL em nota do ano passado, essa situação não surpreende quem tem acompanhado a gestão de pessoal dessa empresa. A forte precarização das condições de trabalho daqueles que atuam na linha de frente nos serviços de distribuição de energia elétrica, que se acentuou de forma alarmante após a privatização da empresa, não poderia levar a outro resultado que não seja a degradação da qualidade dos serviços prestados.
Após a privatização da CEEE-D, com a sua aquisição pela Equatorial, o que se viu foi o desligamento em massa de empregados, com a redução do quadro de pessoal à metade do que era antes, adotando-se a terceirização como prática prioritária na execução dos serviços.
Sem dúvida a terceirização reduz custos e aumenta a lucratividade da empresa. E o lucro é a prioridade da gestão, não a prestação de bons serviços. E a terceirização implica em recrutamento trabalhadores sem o treinamento adequado às atividades complexas e perigosas, com o pagamento de salários aviltantes, a sua exposição a altas cargas horárias de trabalho, com maior incidência de acidentes de trabalho em decorrência da maior exposição a riscos à saúde e a própria vida dos trabalhadores. Não por acaso a CEEE-D Equatorial e empresas intermediadoras de mão de obra vêm sendo reiteradamente investigadas pelo Ministério Público do Trabalho em razão das mais diversas denúncias de abusos e descumprimento de direitos laborais.
Para além da precarização decorrente da terceirização desenfreada dos serviços, ocorreu ainda o desligamento dos quadros técnicos mais competentes, detentores da memória e do conhecimento necessários à prestação de um serviço de qualidade e ao pronto atendimento da população em situações de emergência.
Em situação de calamidade como a que estamos passando nesta semana, com o atraso no restabelecimento de energia elétrica – que acarretou, entre tantos outros problemas, o desabastecimento de água em muitos bairros de Porto Alegre – o que a população precisa é de uma atuação séria e competente das empresas distribuidoras de energia. Lamentavelmente o que vimos é a atuação morosa de uma empresa que não valoriza seus empregados e que prefere contratar mão de obra terceirizada ao preço mais barato possível – mediante a precarização dos direitos trabalhistas – para o exercício da atividade essencial de fornecimento de energia elétrica.
Em momentos como esse fazem muita falta os mais de 1.000 empregados que foram desligados da CEEE logo que efetivada a privatização e as dezenas que foram demitidas no período subsequente, tendo sido substituídos em número desconhecido por trabalhadores terceirizados – sem o mesmo conhecimento técnico, com menores salários e em piores condições de trabalho. Tratava-se de trabalhadores em sua maioria com décadas de experiência na empresa, que conheciam seu funcionamento e todas as peculiaridades da distribuição de energia no Rio Grande do Sul. Apesar disso, incrivelmente a CEEE-D Equatorial entendeu por bem divulgar nesta semana em suas redes sociais a contratação de cerca de 40 eletricistas oriundos de outros Estados do Brasil, que não têm a menor condição de se inteirar em poucos dias da situação que se passa por aqui. Seria cômico se não fosse trágico.
Quem paga o preço do descaso somos nós, população gaúcha sujeita a desamparo frente ao desabastecimento de luz e água, e os empregados da indústria de energia elétrica, que vêm cada vez ganhando menos e trabalhando em piores condições justamente numa atividade tão vital e estratégica.
Urge que a população abra os olhos para as verdadeiras causas do problema e reconheça que a prestação de serviços públicos de qualidade é incompatível com uma gestão que tenha como prioridade a geração de lucro. Os países da Europa que trilharam o triste caminho da privatização dos serviços públicos estão pouco a pouco revertendo essa política, com a reestatização das empresas, justamente em decorrência da degradação da qualidade desses serviços a partir das privatizações.
Os eventos dessa semana, mais uma vez, deixaram claro que o governador do estado e o prefeito de Porto Alegre (à época deputado estadual) erraram em ignorar o insucesso das privatizações europeias. Fatalmente o remédio lá aplicado acabará sendo adotado aqui. Quis o destino que os efeitos lesivos à sociedade dessa má decisão se concretizassem ainda nos mandatos de tais políticos. Espera-se que assumam as suas responsabilidades.
A Diretoria.
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Fonte: SENERGISUL
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